#112 – "AI 2027", a melhor explicação sobre o tarifaço de Trump e a primeira IA terapeuta validada por estudo clínico
AI
Em 2021, Daniel Kokotajlo publicou um post especulando sobre os cinco anos seguintes da IA. Ele errou em alguns detalhes, mas acertou tanto no macro que o texto parece um recap do que realmente aconteceu, mesmo tendo sido escrito antes do ChatGPT existir (!).
Agora, ele tá de volta com um time de especialistas e um novo projeto, o AI Futures Project, pra desenhar um cenário detalhado do que pode acontecer até o fim da década.
O documento prevê um salto vertiginoso:
→ Em 2025, agentes de IA ainda tropeçam.
→ Em 2026, começam a automatizar pesquisa em IA.
→ Em 2027, são capazes de desenvolver IAs melhores do que elas mesmas.
→ Em 2028, atingimos superinteligência.
→ Em 2029, quase toda a economia é automatizada.
→ Em 2030, se a IA não estiver alinhada, o jogo vira contra os humanos. Se estiver, seguimos sob uma tecnocracia com pitadas de feudalismo.
O cenário é ambicioso e propositalmente agressivo no ritmo - já que representa um possível futuro acelerado, e não o mais provável. Mas é justamente o nível de detalhe e transparência que torna essa simulação tão útil para o debate.
🔗 O relatório completo tá aqui: ai-2027.com
Se tiver com curiosidade mas pouco tempo pra ler, aperta o play:
Recomendo também o tweet sobre as predições anteriores de Daniel Kokotajlo, na seção "No X..." aqui embaixo.
No começo dos anos 2000, ninguém via grande valor na busca. Portais tratavam como serviço técnico. A líder da época, Inktomi, atendia Yahoo, AOL e Microsoft, e ainda assim dava prejuízo.
O Google entrou com outra abordagem: servidores baratos, software próprio, foco total em eficiência. Transformou a busca em produto principal e em um negócio bilionário. Agora, tenta algo parecido com IA.
O consenso atual é que modelos são commodities, e o diferencial está no produto final. Mas o Google aposta que a vantagem real virá da infraestrutura integrada, como antes. O lançamento gratuito do Gemini 2.5 aponta nessa direção.
Vai funcionar? Difícil dizer. O histórico com produtos de consumo é irregular. Mas eles têm escala, dados e capital pra tentar, né?
A Amazon começou a testar o botão “Buy for Me”, que promete comprar produtos de outros sites sem você sair do app da Amazon. A novidade é movida por IA, mais especificamente pelo sistema Nova, em parceria com o Claude, da Anthropic.
Funciona assim:
→ Você encontra um item que a Amazon não vende.
→ Vê as infos direto no app.
→ Clica em Buy for Me.
→ Confirma os dados de pagamento.
→ A IA finaliza a compra no site da marca usando seus dados criptografados.
A Amazon diz que não cobra comissão nem acessa pedidos anteriores nesses sites. Dá pra rastrear as entregas no app, mas atendimento e devolução continuam com a loja original. E marcas podem optar por não participar.
Por enquanto, o recurso está sendo testado nos EUA com poucos usuários e produtos. Mas a empresa já sinalizou planos de expansão.
A Meta apresentou seus modelos de IA mais ambiciosos até agora: Llama 4 Scout e Llama 4 Maverick. Ambos são abertos, multimodais (texto + imagem) e rodam com eficiência até em uma única GPU, o que já seria impressionante. Mas o que realmente chama atenção é que o Scout suporta até 10 milhões de tokens de contexto, ideal pra lidar com documentos longos e históricos extensos. Já o Maverick mira assistentes e tarefas gerais, superando GPT-4o e Gemini 2.0 em vários benchmarks, com metade dos parâmetros ativos.
Ambos foram treinados com ajuda do Llama 4 Behemoth, um modelo com quase 2 trilhões de parâmetros ainda em desenvolvimento.
Além da performance, a Meta reforçou o pacote de segurança (com Llama Guard e Prompt Guard) e promete avanços no combate a vieses. A aposta é clara: combinar abertura, escala e eficiência pra acelerar a próxima geração de IAs.
Tariffs
Kyla Scanlon fez nesse artigo o que, na minha opinião, ninguém mais conseguiu: explicar, com clareza e profundidade, o que está por trás da nova onda de tarifas anunciada pelo governo Trump, e por que a comparação com protecionismo histórico (como o de 1930) não é só exagero retórico.
Alguns pontos centrais:
→ As tarifas não são pagas pelos países, mas sim por empresas (e depois, por consumidores).
→ A motivação oficial é reduzir o déficit comercial, mas o efeito prático pode ser aumento de preços, desorganização da cadeia produtiva e risco de recessão.
→ A promessa de “trazer empregos de volta” ignora que a indústria atual é altamente automatizada.
→ Sem uma política industrial robusta por trás (investimento, formação, estabilidade), a tarifa sozinha não sustenta a reindustrialização.
→ O resto do mundo já começou a reagir e a se reorganizar sem os EUA no centro.
No fim, Kyla acerta ao tratar o tema com a seriedade que ele merece. E ainda propõe as perguntas certas: como saber se a política está funcionando? O que indicaria que ela falhou? E o público está disposto a pagar o preço da transição?
Murdoch
James Murdoch finalmente conta sua versão da história, um relato íntimo e detalhado sobre os bastidores da guerra familiar pelo controle do império midiático criado por Rupert Murdoch.
A reportagem de McKay Coppins reconstrói não só os conflitos mais recentes (como o plano secreto que deu todo o poder a Lachlan), mas décadas de ressentimento, manipulação e jogos de influência entre irmãos, advogados e herdeiros.
É sobre política, mídia, poder e sobre um filho que se cansou de manter as aparências.
Grid
O maior gargalo da transição energética nos EUA pode estar onde menos se espera: numa fila.
A “interconnection queue” já acumula mais de 11 mil projetos aguardando autorização para se conectar à rede elétrica, somando quase o dobro da capacidade atual do país. Quase 90% são solares, eólicos ou baterias, espalhados por todo o território.
O problema? A espera média passa de 5 anos. E mais de 70% dos projetos são cancelados antes de sair do papel.
Esse texto faz um raio-X brilhante da fila de interconexão: de onde vêm os projetos, por que tantos travam e o que isso revela sobre a (des)coordenação da infraestrutura energética americana.
No X...
Como prometido.
Um estudo clínico nos EUA testou o Therabot, uma IA generativa treinada para atuar como terapeuta. Em quatro semanas, os participantes relataram:
– Redução média de 51% nos sintomas de depressão
– Redução de 31% nos sintomas de ansiedade
Muitos deixaram de atender aos critérios clínicos para diagnóstico. O bot foi bem avaliado, com uso médio superior a 6 horas e níveis de confiança comparáveis aos de terapeutas humanos.
É o primeiro estudo randomizado a comprovar a eficácia de uma IA generativa no tratamento de sintomas mentais em nível clínico.
O CEO da Shopify, Tobi Lütke, compartilhou um memo interno afirmando que o uso de IA agora é esperado como padrão dentro da empresa. Ele destaca como a tecnologia está transformando o caminho do empreendedorismo, deixando decisões complexas mais acessíveis e executando tarefas de forma autônoma.