#113 Market ending moves, narrativas que viram vantagem e o perigo da tração vazia
Startups
Algumas startups não vencem o jogo. Elas encerram o jogo.
Fusão com o rival. Compra de fornecedor estratégico. Acordo de distribuição que decide quem vira padrão. Ou simplesmente levantar tanto capital que ninguém mais consegue competir. Esses movimentos não são sobre eficiência. São sobre mudar o equilíbrio de forças.
A pergunta que todo founder deveria se fazer é qual decisão aparentemente maluca poderia encerrar essa disputa de vez? Mesmo que não aconteça, pensar assim abre espaço para jogadas que ninguém mais está considerando.
Quando tudo pode ser copiado (UX, produto, tom de voz) a estratégia deixa de ser sobre proteção e passa a ser sobre interpretação. A vantagem real não tá mais no que você faz, mas no que isso significa.
Tesla, por exemplo, não inovou só em tecnologia, mas em narrativa. Esse tipo de força simbólica é o que ainda sustenta relevância. E é também onde a Open Innovation precisa atuar: menos caça a features, mais construção de sentido.
Startups não devem só entregar soluções, mas ajudar a responder a pergunta que realmente importa: o que isso representa, e por que vale a pena existir?
Nem todo crescimento rápido indica um acerto. Em especial nas verticais de IA, tem sido comum ver startups com milhões em receita antes de validarem qualquer hipótese sólida. Tração precoce pode ser só um efeito colateral de ciclos experimentais, orçamentos soltos e promessas infladas; não sinal real de valor duradouro.
Startups que tratam receita como fim, e não como consequência, acabam otimizando antes de entender o que estão construindo e por quê. Venture capital não existe pra escalar números bonitos, mas para financiar experimentos com respostas claras: verdadeiro ou falso.
É esse tipo de validação que transforma uma boa ideia em empresa e uma empresa em negócio viável. A Outtake, por exemplo, chega ao Series A tendo identificado um problema novo (fraudes amplificadas por IA), validado sua abordagem pra só depois capturar receita relevante. Receita importa. Mas vem depois.
Amazon
Na carta aos acionistas publicada, Andy Jassy apresentou os resultados da Amazon em 2024: crescimento de dois dígitos, margens em alta, e IA ganhando espaço em quase todos os produtos. Mas o trecho mais revelador tá longe dos gráficos. O CEO admite, sem rodeios, que a empresa por vezes caiu na armadilha de associar progresso a times inchados. E lembra que serviços como S3 e EC2 nasceram com menos de 15 pessoas.
Esse reconhecimento expõe a tensão que atravessa toda a carta. A Amazon quer seguir operando como uma startup, mas carrega a estrutura de um império. Pra manter o ritmo, precisa enfrentar a burocracia que ela mesma criou. O mantra do “por quê” continua presente, mas a carta sugere, nas entrelinhas, que preservar essa inquietação exige vigilância constante. E talvez um pouco de esforço pra continuar acreditando nela.
Google
A Apple costuma começar pela experiência do usuário e só depois pensar na tecnologia. O Google faz exatamente o contrário: eles inventam primeiro e depois veem onde pode encaixar. É esse impulso que explica por que a empresa tem tantos produtos de IA rodando ao mesmo tempo (Gemini, NotebookLM, AI Studio, Labs, Search) todos meio parecidos, mas nenhum realmente integrado.
No fundo, é um jeito de operar. O Google diz “sim, sim, sim” pra toda ideia promissora e deixa que o tempo (ou os usuários) façam o trabalho de dizer “não”. Às vezes dá certo, como no caso do NotebookLM, que virou hit sem querer. Mas, na maior parte do tempo, vira só mais um experimento esquecido no cemitério do Google.
Enquanto a concorrência foca, lapida e entrega, o Google continua apostando que, de algum jeito, os pontos vão se conectar.
Ozempic etc
Em 2022, a cirurgia bariátrica era o procedimento que mais crescia na Intuitive Surgical, gigante da cirurgia robótica. Trimestre após trimestre, o segmento aparecia entre os destaques de crescimento nos EUA. Mas tudo mudou bem rápido. Um ano depois, o que crescia acima de 20% passou a encolher puxado por um fator que, até então, pouca gente tava olhando de perto: os GLP-1s.
Mesmo com o buzz crescente em torno de medicamentos como Ozempic e Wegovy, a Intuitive só passou a citar o tema nas earnings calls a partir de julho de 2023. O mercado também demorou a se dar conta. Parte por conta da distância entre os setores de dispositivos e biofarma; parte por preconceito com a categoria, uma mistura de desconfiança técnica, histórico problemático e a velha ideia de que “emagrecer com remédio” não era algo sério.
Mas quando ficou claro que os remédios funcionavam, eram seguros e amplamente desejados, a ficha caiu. A Intuitive segue forte, com um portfólio diverso e pouca concorrência direta. Mas o susto deixou uma lição: nem toda ameaça chega fazendo barulho. Às vezes, ela só funciona e muda o jogo antes de você perceber.
No X…
Um relato que mostra que quando se trata de comércio com a China, as tarifas são apenas uma parte visível de um cenário muito mais amplo.
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