#115 AI: Startups > incumbentes, guerra pelos dados, fraudes e Sua Majestade, a Mídia
AI
Pete Koomen, da Y Combinator, traz uma provocação bem interessante ao comparar a maioria dos apps de IA com "carruagens sem cavalo", tentativas de enfiar IA em modelos antigos de software, sem repensar o que a tecnologia realmente permite.
Pra ilustrar essa visão, ele cita um bom exemplo: o assistente de IA do Gmail, que gera e-mails formais, longos e sem personalidade exatamente porque foi construído para se encaixar no que o app já era, e não no que poderia ser.
Nesse cenário, startups têm uma vantagem enorme: podem partir do zero e criar produtos verdadeiramente nativos de IA, onde o usuário ensina a máquina a agir no seu próprio estilo e contexto, em vez de aceitar uma solução genérica. Enquanto incumbentes tentam proteger seus legados, startups têm espaço para desenhar agentes flexíveis, moldáveis e muito mais poderosos, abrindo uma janela real para construir a próxima geração de software.
Mudanças de plataforma não pedem só novos recursos, pedem novos produtos, novas formas de pensar o que é uma boa experiência. Scott Belsky mostra como a IA está tornando obsoletos muitos hábitos digitais que pareciam sólidos, e defende que o caminho é voltar aos instintos básicos das pessoas: automatizar o que é manual, facilitar a descoberta, criar relações mais pessoais e memoráveis com a tecnologia.
Ao mesmo tempo, uma nova disputa se desenha nos bastidores: a guerra pelos dados e interfaces. No futuro da IA, ganhar não será sobre ter o modelo mais potente, mas sobre entender o usuário melhor do que ninguém, capturando dados próprios, cruzando fontes externas e construindo experiências que se tornam parte natural da vida das pessoas.
O futuro não será moldado por uma explosão súbita de inteligência artificial, mas por um processo mais lento e profundo. Ege Erdil e Tamay Besiroglu projetam que a AGI ainda está a décadas de distância, mas que mesmo assim a automação vai redesenhar o trabalho, a produção e as relações econômicas.
Em vez de um salto mágico, veremos algo mais parecido com uma nova Revolução Industrial, um movimento que acumula força aos poucos, até dobrar o tamanho da economia ano após ano. Não é só tecnologia: é o mundo inteiro sendo refeito, uma camada de cada vez.
Fraude
Alguns atores que venderam seus rostos para avatares de IA estão começando a se arrepender, e com razão. Histórias como a de Simon Lee, ator sul-coreano, que descobriu seu avatar promovendo curas questionáveis no TikTok, mostram como a decisão pode sair caro. Até empresas que juram ter controle, como a Synthesia, já deixaram escapar vídeos problemáticos (tipo o caso do Connor Yeates, britânico cuja imagem foi usada para apoiar um líder de golpe em Burkina Faso, violando os próprios termos do contrato).
Mesmo assim, o mercado não para de crescer. Com a promessa de cortar custos e acelerar campanhas de marketing, a Synthesia já emplacou seus avatares em 70% das empresas da Fortune 500. Dá pra entender o apelo para quem emprestar o rosto: é um jeito de garantir uma grana fácil num mercado cada vez mais difícil.
Só que, depois de ver seu rosto atrelado a golpes, desinformação ou politicagem, muita gente percebe que licenciar a própria imagem talvez não valha o perrengue.
Em agosto de 2024, um casal foi sequestrado de forma cinematográfica, mas a história era ainda mais maluca do que parecia. Poucos dias depois, veio à tona que o filho deles, Veer Chetal, um jovem que vivia entre servidores de Minecraft e fóruns de cybercrime, tinha ajudado a roubar quase US$ 250 milhões em Bitcoin. Com o dinheiro, ele e seus amigos entraram numa maratona de gastos absurdos: Lamborghinis, festas em iates, contas de meio milhão de dólares em baladas. O sequestro foi uma tentativa desastrada de resolver as pontas soltas dessa farra.
O cerco fechou rápido graças a investigadores independentes como ZachXBT, que rastrearam as transações quase em tempo real e encontraram pistas nas redes sociais. Os criminosos eram jovens, muitos recém-saídos do ensino médio, que começaram cometendo pequenas fraudes em jogos online e acabaram se metendo em crimes de escala milionária.
Especialistas alertam que o crime digital está deixando de ser só virtual. Cada vez mais, jovens envolvidos em golpes online estão cruzando a fronteira para o mundo real, com sequestros, ameaças e violência física. É um salto de escala e de risco, feito por gente que cresceu trapaceando em jogos e agora acredita que pode fazer o mesmo fora da tela.
You are a media brand
Kevin Hillstrom defende que toda empresa que vende online é, também, uma marca de mídia. Ele cita exemplos como Ryan Hall Y’all (que transmite alertas de clima severo no YouTube para centenas de milhares de pessoas) e empresas como Headphones.com (que faze lives de 3 horas sobre fones de ouvido), que viraram referência em usar conteúdo como motor de comunidade e vendas. O ponto é que entrelaçar mídia com produto é mais eficaz (e barato) do que depender de anúncios pagos.
Se você está cortando orçamento de marketing, produzir conteúdo precisa deixar de ser plano B. Vídeo ao vivo, posts recorrentes, até memes — tudo vale quando o objetivo é manter a atenção das pessoas sem gastar com Meta ou Google. Em tempos de margem apertada, virar mídia é virar jogo.
A Andreessen Horowitz anunciou a chegada de Erik Torenberg como general partner — um movimento que consolida a visão da firma de que venture capital é tão mídia quanto investimento. Desde 2009, a a16z se define como uma espécie de "media company que monetiza via investimentos", e a aquisição da Turpentine, plataforma de podcasts verticais e redes de fundadores criada por Erik, é a expressão mais clara dessa tese até agora.
Vida em outro planeta?
Astrônomos encontraram em K2-18b, um planeta a 120 anos-luz da Terra, sinais de uma molécula que, aqui, só existe por causa de vida: o dimetil sulfeto, produzido por algas marinhas. A descoberta foi feita com o telescópio James Webb e levantou a hipótese de que o planeta possa ter oceanos quentes cobertos por uma atmosfera rica em hidrogênio, cenário onde a vida seria possível. Ainda assim, há quem acredite que o planeta seja, na real, uma rocha fervente cheia de magma.
O estudo é visto como um passo importante na busca por vida fora da Terra, mas todo mundo concorda que ainda falta muito para cravar qualquer conclusão. E tem um risco no horizonte: cortes no orçamento da NASA podem frear pesquisas futuras. Como brincou uma cientista: “Não estou gritando 'alienígenas!'... mas reservo meu direito de gritar se for o caso.”
No X…
Enquanto o custo do trabalho de IA pode despencar até zero, agentes perfeitos em áreas críticas poderiam cobrar mais que humanos?
Dado impressionante do colapso do primeiro projeto do Canal do Panamá: ele custou cerca de 10% do PIB da França na época, meados de 1880.
Para efeito de comparação hoje, seria como se uma única startup levantasse algo em torno de 300 bilhões de dólares, e desse errado (!).
O sucesso "da noite pro dia" pode demorar 7 anos pra acontecer.